
Tudo Tem o Seu Tempo
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Parada em frente ao espelho, não me reconhecia mais. Dois anos antes ouvia elogios da minha beleza e corpo com curvas torneadas. Agora, ninguém mais elogiava, e só ouvia daqueles mais próximos que eu havia mudado, que não me cuidava mais.
Inspirei, resignada, e comecei a passar o corretivo para disfarçar as escuras e profundas olheiras e as espinhas que não tivera na adolescência.
— Anda logo, Alice, vamos nos atrasar — grita Carlos do andar de baixo.
— Já estou indo...
— Vê se agiliza, tá demorando muito.
Enquanto alisava meus cabelos, tentei lembrar quando foi a última vez que Carlos me chamou por algum apelido carinhoso. Tínhamos tantos, desde os mais normais, como “amor”, até os mais cafonas, como “ursinha”, mas agora ele mal me chamava pelo nome.
Depois que terminei de me produzir, pensei que me sentiria melhor, mas, assim como em todos os dias do último ano, não adiantou. Não conseguia mais ver beleza naquilo que estava na minha frente.
Desci as escadas desanimada por ter que participar de mais um evento social contra minha vontade.
— Não estou acreditando no que estou vendo, você vai assim?
— Vou, é a melhor roupa que tenho.
— Então você precisa comprar roupa. Não dá para você ir comigo assim. Já não basta a sua cara?!
Ao ouvir o comentário do meu marido, não soube o que fazer. Não acreditei no que ele tinha dito. Ele não falou mais nada, deu as costas e saiu, me deixando sozinha. Sentei no sofá e uma lágrima escorreu. A distância entre Carlos e eu era um abismo, e a cada dia que passava só aumentava. Eu não conseguia ver uma forma de melhorar nossa relação, nada do que eu fazia adiantava. Eu não tinha mais força para lutar. O cansaço era constante na minha vida.
Um barulho me despertou. Ouvi algo vibrando e abri minha bolsa, mas não era o meu celular. O zumbido persistia. Vasculhando o sofá, encontrei o celular de Carlos entre as almofadas do encosto e do assento, no mesmo lugar onde ele estava sentado antes de me deixar sozinha.
...