
Mary Nichols
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Sem rumo e sem dinheiro, eu não sabia mais o que fazer. Apenas vagava pelas ruas do distrito de Whitechapel, tentando sobreviver. Em uma só noite, tudo o que eu tinha me foi tirado. A única coisa que me restava era a raiva. Raiva, muita raiva. Minha vida era tranquila, eu não era rica, contudo meu pai através de seu trabalho árduo como barbeiro conseguia nos manter dignamente. Mas aquelas mulheres, ah aquelas mulheres, conseguiram arruinar tudo.
Deparei-me com outro lado que não conhecia de meu pai, após sua morte. Descobri que ele era um excelente apostador nos prostíbulos da cidade e que ninguém era páreo para ele no carteado. Toda a Inglaterra tinha conhecimento desse fato, menos eu. Mas eu não conseguia condená-lo, sabia que ele fazia isso por mim, pelo meu sonho. E na beira de sua cova jurei que uma por uma pagaria pelo que fizeram.
Não foi difícil e nem demorei tanto para descobrir todas as miseráveis envolvidas.
Esperei por um longo período aquela mulher da vida aparecer. Mais cedo a segui até um estábulo em Buck’s Row. A prostituta, é claro, estava pendurada em um homem que parecia tão bêbado que trocava as pernas ao andar. Mas era nítido que só o homem estava embriagado.
Escondi-me atrás de uma árvore, me protegendo da chuva fina que caía. O frio cortava meus músculos e eu tremia, mas nada me impediria. Eu não tinha como me proteger tão bem assim do frio. Para conseguir sobreviver, o pouco que eu tinha precisei vender. Só me restava uma antiga capa que era do meu pai, com seus remendos e puída em alguns locais, sem falar que estava desbotada. Demorei mais tempo do que eu pretendia para colocar meu plano em ação, que não seria uma chuvinha e o frio que me demoveria do meu objetivo.
A noite havia caído e nada daqueles dois saírem do estábulo. O frio aumentara, assim como a chuva. E eu me perguntava qual a desculpa que Mary dava para chegar tão tarde em casa. Eu tentava me proteger e me aquecer, o máximo possível, mas nada parecia surtir efeito. Até que vi o homem saindo colocando a blusa para dentro das calças e ajeitando-as. Ele correu, tentando se proteger da chuva. Não demorou muito e Mary saiu. Com as bochechas rosadas e sem aparentar sentir frio, colocou apenas um lenço em seus cabelos castanhos, já meio grisalhos e iniciou o seu caminhar, tranquila, sem se preocupar com a chuva.
Eu a surpreendi parando em sua frente. Mary deu um leve sorriso, abaixou a cabeça e tentou me contornar. Eu novamente me coloquei a sua frente.
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